segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Exposta



Essa sou eu com meu corpo pós-parto
Essa sou eu com minha nova cintura, peitos, quadril

Essa sou eu com meu figurino de baile 
com meu novo ser à tira-colo

Essa sou eu olhando na foto o que não consigo reconhecer em mim mesma

Me disse uma amiga essa semana: 
Quem tem o signo de peixes em algum lugar forte no mapa astral tem a dificuldade de se reconhecer num corpo físico.

Olha só se não foi uma mensagem certa pra pessoa certa?

Eu com minha lua em peixes
 que passei anos da minha vida (quase uma década) 
com dores surreais na cabeça 
sem entender que meu corpo possuía limites

Mas veja só
Eu, agora terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa, 
penando pra deixar fluir meus sentimentos que parecem não habitar mais esse corpo


Me vejo essa nova pessoa sem se reconhecer no espelho
Ombros, pescoço, braços remodelados.

Porte remontado
 para acolher
Sustentar
Nutrir
Dar a vida

E dou
Cada dia com mais vontade
Cada dia com mais amor

Sigo entendendo novos alicerces
Novas raízes


E falando em raízes
Em corpo que se remolda
Dentes que  quase se desprenderam fazem parte desse novo corpo em construção

A força do rim gera uma nova vida 
mas não é mais capaz de deixar firmes os dentes na boca

Diriam os chineses que a energia ancestral não foi suficientemente repassada
ou cultivada

Faltou também à minha mãe e ao meu pai.

E aí, que desde a geração da Luiza, 
se foram meus dois segundos-molares

A força que sustenta meu mastigar se foi
Precisou-se anular  os nervos da dentição



Raízes que não podemos ver sendo remoldadas
Estruturas descobertas
Agulhas, anestesias, brocas, cutucadas


A dor de quem passaria novamente por outra cesárea mas nunca mais abriria a boca pra nenhum canal

Endodontia, me respondeu o dentista mais delicado que até hoje já me atendeu

E em cada reabrir de espaço interno, meu novo corpo visualizava fechos de luz por onde a energia interna corre




Senti meu utero, meu centro de força
Lembrei dos Chineses e seus pontos para anestesiar a boca
Suei, chorei
Anestesias que não pegavam

Como a dor de não se reconhecer mais a pessoa que já fui em outros tempos

Há dias, como hoje, em que me sinto mais sensível
Há dias, como hoje, em que me sinto mais exposta

Como a raiz do dente
Como os nervos cortados


Pra tudo isso, 
depois da maternidade,
me veio uma dose extra de força

Um quebrar e se remoldar que meu corpo não aguentaria antes
mas que agora torna-se natural

Ser mãe
aguentar uma parte de nós vivendo fora de nós
amar os sorrisos
sofrer com a dor

tudo faz parte
me entrego a esse mergulho

Ficam minhas raízes expostas
Me faço nova
de novo




2 comentários:

CZa disse...

te amo

Daueba disse...

Que texto, lindo, Fe! É a dor de se reinventar e descobrir sua essência num corpo novo, um novo lugar, nova forma de ser você novamente. Tô aqui passando pelo mesmo processo. E me inspira ver mulheres fortes como vc, relatos sinceros que não escondem por trás da felicidade que é tb esse momento novo da vida.