quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

12 anos Renascendo

 
Querendo apagar a presença 
e suprimir a dor de alguém

Atentaram contra vida
Tentaram homicídio também

Quando deram pistas falsas
nos levando
por onde 
não ia 
ninguém

Atentaram contra vida
Tentaram homicídio também

Encurralando alguém
no beco
De onde não saía 
nem entrava mais ninguém

Mandaram pra lá explosivos
Transformando em cinza
tudo que era vivo 

Memória de quem?

Não se lembrava mais
Do tempo antigo ou recente 
Três noites atrás era muito
Pra uma gente tão clemente 

Não se fazia sentido
Nem se importavam mais 

Se alguém perdeu 
Família
A casa
E seus ideais

Atentaram contra vida
Tentaram homicídio também

No repelir emoções
Toda ajuda que não vem
Foram-se todos 
Tantos cúmplices
Fui eu a culpada também

Hoje, quem não estaria preso
No tribunal dos que não se esqueceram?

Embaixo da água que não foi chorada
A respirar, viveram os que aprenderam 

E em meio à tanta tortura
Assim tambem viveram 
os que da sua própria dor,
num dia se desprenderam

Desde muito já 
Logo muito cedo
Nem sequer dormiram
Já amanheceram

Com aquele ardor no peito
Se perguntavam sempre
Como se houvesse outro jeito
Pra se fazer diferente

O que faria surgir o novo
Pra reverter esse erro?

Todo espaço dentro 
assim desenvolveram

Pra guardar 
Oxigênio
E decantar
sofrimento 

No fim de tanta violência
Teimando, sobreviveram 

Hoje comemorando 
12 anos 
Renascendo

A despeito 
dos que jogaram em nós, 
as suas pás de esterco
assim se esquecendo
que depois da poda
A madeira de lei
Rebrota

E a cada ano que passa
Seu valor
Vai crescendo 




domingo, 7 de janeiro de 2024

Diario de Luto 2024

 


Tem partido 

tanta gente


o fim precoce

bate à minha porta

e me contorce 


eu li a mensagem 

antes de decidir 

se eu queria ou não saber

todo detalhe sórdido 

que agrava o luto

e faz roer


Tantas dores

tanta gente morta


A doença agressiva que

repentinamente morde, 

engole e não assopra.


Levam mais um de nós

e deixa todo resto na cova.


Apaga a luz na outra casa

e minha alma sente o breu .


Perco o caminho na estrada,

porque isso aconteceu?


Tanta tristeza 

sem saber porque 

Até o celular acender, dizendo:

O capitalismo venceu! 

E levou junto o PC.


tanto vazio

tanta dor

sem imaginar


meu tio indo embora

e levando com ele

quem não tinha mais

amor pra dar


uma mulher, uma mãe e seu amigo

não importou o clamor

dos que ficaram em perigo


Tanto peso

tanto desprezo

e a gente sem compreender


Porque andar de bike

(sendo mulher)

pode, sim, 

matar você.


Se não bastasse a fome

as guerras e as desigualdades


Se não morressem já milhões

por ódio e por maldade


se não fosse embora tanta gente

precocemente sem ter visto a felicidade


ainda joga-se fora 

a vida

dos que fariam a diferença

de verdade.






sábado, 11 de novembro de 2023

Dentro da minha oração



A guerra me queima  

Sinto a morte invadir o peito

Sofrimento queimando o coração


Todo dia, alta noite

A sombra me encontra

Ouço o desespero num choro

Um buraco na existência

A vida em contramão


Toda noite 

Tento ter paciência

Por no meu colo esse povo

abandonado à destruição


Toda noite

Orfãos e mães sem seus filhos

Dormem em segurança comigo

Dentro da minha oração 

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Cocô de Cachorro

Cocô de Cachorro


Que merda!!

Você fez de novo!


Brigou comigo

Bateu no cachorro


Que merda!!!

Durezas em dobro


Gritando os excessos 

Escutando pouco


Que merda

Tão inflexível


Querendo melhoras

Acabou comigo


Que merda

É guerra aqui dentro


Palavras, Venenos

Tanto bombardeio


Que merda 

Ter que engolir 


Gatilhos da infância 

Em toda essa merda

Escarrada 

em mim 


Que merda 

Com a alma doendo 

Achar esperança 

Na merda fedendo 


Que merda

Ninguém tá vendo

Essa chinelada 

De merda fervendo .







terça-feira, 27 de junho de 2023

Aroma Clichê

 

Querer 

e não fazer 


Pra me proteger 

renego meu eu

e você


Desisto 

de ver 

E ter 

momentos a sós 

com outros de nós 


nem que fosse na TV


Sem 

a censura 

que impõe 

o bom-senso, 


Invento alguém que me esquece 


Viver até parece 

só sentir na prece 

Aquilo que a gente merece 


Gargalha alto 

e esquece 


Todo triturar que o dia te fez

Na boca do amor,

um aroma clichê

Mastiga, sente o doce

cospe e te esquece 

e nem se despede de você 


Pra sofrer 

sem o seu bem-viver 


depois que o sol se pôs 

Eu não vejo mais você 

























quarta-feira, 7 de junho de 2023

O que diria Beyoncé ?





Quando o raio 

dos quereres


Desmorona 


Minha cabeça Chora

Pensamentos e memórias


Quem te afasta

De nós dois


O você de agora

ou de depois ?



A carne

Nefasta do boi

comemos agora


Quem vai nos comer depois?


Quando o raio do querer

Quer me acertar


Nunca

quase nunca

no

teus

planos

eu tô lá 



07/06/23







quinta-feira, 25 de junho de 2020

Pra amiga
Pra vizinha
Minha mãe

Manda nos correios
Vem retirar
Montou demais
Faltou erva

Deu errado
Refaz
Troca tudo
Muda a receita
Acrescenta

Doce demais
Muito amargo
Gosto de pneu

Faz o que com saquinho separado?
Pode cúrcuma no lugar do gengibre?

Esqueceu fora da geladeira
Azedou
Ferveu demais
Já era ruim
Ficou pior
Não pode ser.

O santo não deixa a canela
Mas pode mandar as cigarras
Quem disse que vai pedra?

E o reino vegetal
Animal
E Mineral

Benza Deus
Credo cruz
Que chá ruim

Mas é tão bom
Para coluna
Pro encosto
Pra insônia
Livrou o trauma
Renasceu
Segurou barriga
Parou sangramento
Fez parir
Curou anemia
O cisto
A gastrite
O ex
A sogra
Ajeitou o atual
Deu força pra separar
Pra casar
Pra morar só

Tudo isso num chá

Combinando algumas gramas do ingrediente escolhido
Cabum!
Fez a magia
Disciplina
E alquimia

Sigo no mundo das ervas
E um dia viro semente

Se der sorte
Vou embalada
E agora carimbada
Pra panela de vocês.

#colorindoarima
#fitoterapiachinesa
#medicinatradicionalchinesa
#mtc #fitoterapia
#ervasmedicinais

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Afônica

Perdi a voz.
Depois de tentar conversar com 2, 3 pessoas sobre algumas crises, algumas situações, que reverberam, claro, no que vive o nosso país, perdi a voz
Depois de algumas palpitações, de algumas noites de insônia, depois de muita frustração, das incertezas e da impossibilidade de mudar algo pelo meu simples querer... perdi a voz
De lá pra cá percebo o quanto deixei de falar desnecessariamente
Perdi a voz não foi por acaso, porque insistir nas palavras faladas?
Quando insisto em falar, mesmo sem voz, algumas pessoas ao redor acham a maior graça deu estar me esforçando tanto pra emitir algum som
Parece que me dizem: Porque não fica calada, querida?
Pra que desgastar, estando assim?

Elas se solidarizam com a falta de voz mas não com o que digo.
Diante dessa afonia, tenho visto que uma postura transformadora muda mais do que muitas palavras.
Que meu silêncio também diz muito.
Que meus ouvidos atentos também causam uma transformação no outro.

Que meu olhar aprova ou desaprova, comenta, e assina embaixo de muita coisa.
Que me recolher pode mudar o rumo de um dia..
Que em alguma hora alguém vai perceber o que eu queria dizer mesmo sem ser dito

Estar sem voz me poupou de algumas conversas indesejáveis na rua, em casa, no consultório e na aula, mas me deu uma nova visão sobre tudo.

domingo, 18 de março de 2018

Redonda

De quando
carreguei no ventre
um filhote de coruja

o dom da sabedoria
no mar dos sentimentos


sensações, enraizar

de quando andei
re
don
da

44 dias de textinho







Escrever
e a fotografar
não posso me esquecer
das ferramentas do sentir,
do parar
do pensar

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Limites







Não ando muito bem, sabe?
E faz tempo que não me acerto mais com esse lance de amar e conviver sempre sorrindo pros erros e acertos dos que estão ao nosso redor.
Ao mesmo tempo é quase impossível vivermos sem falhar. 
E daí, como ficamos? 
Compreender as falhas, as dos outros e as nossas, as distâncias possíveis e necessárias, os sufocos, as garras afiadas quando precisamos dizer não ou quando necessitamos de um sim é um tremendo desafio!
Pois é, tô falando de limites.
As questões de convivência  são mesmo delicadas.
Esses dias, enquanto lia o livro sobre carência afetiva, a autora colocava que devíamos ser amados pelo que somos, não pelo que fazemos.
Que uma atitude não deveria ser justificativa para nosso pavor de sermos abandonados.
Mas será que é assim que acontece?
Somos amados acima do que podemos prover? Apoio emocional, financeiro, ombro pra chorar, parceria na balada, alguém pra rir das piadas?
Onde se alicerça nosso valor?
Será que nossas atitudes não são pautadas na aceitação daqueles que amamos?
E o medo de dizer não faz com que sejamos submissos a desejos que não são nossos?
Por vezes, quando os limites passam do tempo de serem colocados, o amor pela nossa figura se alicerça em atitudes afirmativas que não condizem com nossa verdadeira sensação.
Daí quando nosso limite chega viramos vilões, egoístas, dignos de sermos ignorados do círculo de convivência por termos cedido tanto tempo em nome da "paz".
A gente perde a graça, sabe.
E eu não ando muito bem. Pelos nãos que não disse, pelos sins que recebi a contragosto. Portas fechadas e socos na surdina.
Eu não me acostumo com isso.
Apesar dessa dor nós somos agraciados com o melhor das melhores pessoas que nos rodeiam e, apesar de não estar muito bem com esse lance dos limites, meu coração se enche de amor toda vez que alguém se aproxima.
Por mais que eu queira me esconder debaixo da coberta sempre que a convivência é desafiada, o afeto recebido brota por toda parte pra me mostrar que amor e dor andam lado a lado mas é pro nosso bem maior.

Sofrer e crescer também são uma rima possível no dia a dia. Impor limites ainda é preciso. E, apesar das arestas mal-aparadas conviver ainda é um remédio.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Exposta



Essa sou eu com meu corpo pós-parto
Essa sou eu com minha nova cintura, peitos, quadril

Essa sou eu com meu figurino de baile 
com meu novo ser à tira-colo

Essa sou eu olhando na foto o que não consigo reconhecer em mim mesma

Me disse uma amiga essa semana: 
Quem tem o signo de peixes em algum lugar forte no mapa astral tem a dificuldade de se reconhecer num corpo físico.

Olha só se não foi uma mensagem certa pra pessoa certa?

Eu com minha lua em peixes
 que passei anos da minha vida (quase uma década) 
com dores surreais na cabeça 
sem entender que meu corpo possuía limites

Mas veja só
Eu, agora terapeuta em Medicina Tradicional Chinesa, 
penando pra deixar fluir meus sentimentos que parecem não habitar mais esse corpo


Me vejo essa nova pessoa sem se reconhecer no espelho
Ombros, pescoço, braços remodelados.

Porte remontado
 para acolher
Sustentar
Nutrir
Dar a vida

E dou
Cada dia com mais vontade
Cada dia com mais amor

Sigo entendendo novos alicerces
Novas raízes


E falando em raízes
Em corpo que se remolda
Dentes que  quase se desprenderam fazem parte desse novo corpo em construção

A força do rim gera uma nova vida 
mas não é mais capaz de deixar firmes os dentes na boca

Diriam os chineses que a energia ancestral não foi suficientemente repassada
ou cultivada

Faltou também à minha mãe e ao meu pai.

E aí, que desde a geração da Luiza, 
se foram meus dois segundos-molares

A força que sustenta meu mastigar se foi
Precisou-se anular  os nervos da dentição



Raízes que não podemos ver sendo remoldadas
Estruturas descobertas
Agulhas, anestesias, brocas, cutucadas


A dor de quem passaria novamente por outra cesárea mas nunca mais abriria a boca pra nenhum canal

Endodontia, me respondeu o dentista mais delicado que até hoje já me atendeu

E em cada reabrir de espaço interno, meu novo corpo visualizava fechos de luz por onde a energia interna corre




Senti meu utero, meu centro de força
Lembrei dos Chineses e seus pontos para anestesiar a boca
Suei, chorei
Anestesias que não pegavam

Como a dor de não se reconhecer mais a pessoa que já fui em outros tempos

Há dias, como hoje, em que me sinto mais sensível
Há dias, como hoje, em que me sinto mais exposta

Como a raiz do dente
Como os nervos cortados


Pra tudo isso, 
depois da maternidade,
me veio uma dose extra de força

Um quebrar e se remoldar que meu corpo não aguentaria antes
mas que agora torna-se natural

Ser mãe
aguentar uma parte de nós vivendo fora de nós
amar os sorrisos
sofrer com a dor

tudo faz parte
me entrego a esse mergulho

Ficam minhas raízes expostas
Me faço nova
de novo




quarta-feira, 18 de outubro de 2017

É pra torar




Hoje estive pensando que se eu estivesse em Recife a imagem mais completa do ser mãe seria essa expressão: É pra torar.





Torar no meio, claro.
De um jeito completo e profundo, torar.

Como um tronco de árvore partida ao meio
Como uma grande viga que desaba

Olhamos ao redor, tudo meio igual, meio diferente do que já era
Com a pequena diferença: tem mais alguém aqui.




Esse alguém com o melhor abraço do mundo. (Piegas, né? Mas ser mãe é meio isso, pode se acostumar)

Alguém que chegando aos três quilos deixa a gente mais leve, mais despreocupada com a vida.



Entre novas posições de dormir e um amamentar que, às vezes, dura o passar de horas e horas, me quebro pra me reconstruir.

Me quebro ombros, pescoço, cintura.
Me quebro sangue preso que se guardou com o passar dos sustos.
Em três meses: Acorda, levanta, cruza as cidades, senta por dias e dias.

Uma hora o corpo nos dá o saldo.
Nos manda a conta devedora que sou de mim mesma nos últimos tempos

Cuida-se como dá 
Tenta voltar pra yoga
Moxa, massagem, amassos no companheiro de quarto

Tentamos amenizar a carcaça dura
Fazemos cocô como nunca

Ai que gostoso relaxar, quando dá...
E cada vez dá mais...
vai dando





A gente vai reconstruindo e novamente se quebrando
Ficando mais forte
Escudo que se fecha e se abre a cada novo olhar




Amo muito menos quem não precisa
Amo muito mais poder amar quem quer amar

Quanta gente valiosa ao redor...
Quanta gente que não sabe mais trocar...

Uma alegria
Uma pena





Tenho compreendido cada vez mais a dualidade das forças do universo sendo manifestadas em tudo


Estou tão feliz por poder enxergar
A filosofia mudou minha vida em 2011 quando redescobri que ainda posso pensar.

Acordemos
Estar vivo é de lascar!
É pra torar o ser humano no meio.





Mamãe



Faz um tempo que eu, esse ser hibrido entre o cansaço e preocupação, não pausa um pouco a loucura cotidiana de ter uma recém-nascida em casa, para poder escrever.

Escrever pra mim mesma, um pouco de visão própria sobre isso tudo que anda acontecendo desde o dia 09 de abril, quando me descobri grávida.

Já estavamos ali com 4 meses e, 3 meses depois, estaria parindo, sozinha, dentro de um hospital após 7 dias de internação.

Eu, esse ser hibrido que teve sua cria internada por 63 dias neste mesmo hospital.
Que ia e vinha todo santo dia pra casa sem a neném, abrindo fissuras incalculáveis dentro da alma.

Juro que tentei segurar a onda entre tanta gente que me alertava: A criança sente tudo, seja grata pela vida."

Mas por quantas vezes acordei de madrugada procurando minha filha seguida da lembrança "aliviada" de que ela estava no hospital.

Quantas vezes vim catártica, dentro do vagão já tarde da noite, depois de horas ensaiando o vir embora, inconformada por estar separada daquela parte tão sensível de mim.


Claro que minha filha precisava de mim, mas quase 20 dias depois dela nascer, quando pude enfim segurá-la no colo, foi que compreendi que o vazio que eu sentia na alma, era pelo fato dela estar aqui do lado de fora, longe do meu corpo.

Por esse mesmo motivo é que, entre dores e desconfortos, mantive a produção de leite por quase 30 dias antes dela mamar pela primeira vez.

Retirar o leite de 3h em 3h era um ritual que me preparava pro meu encontro com ela e que, até hoje, me alivia das angustias da alma.

Amamentar é um descarrego de qualquer ansiedade, do que quero que aconteça no mundo.
Amamentar é o compartilhar de uma energia que sempre borbulhou em mim sem vazão.

E ela suga, suga como quem tem sede do mundo.

Talvez eu ainda me debruce por muitas vezes sobre tantos temas desse processo intenso pelo qual tenho passado.

O que me incomoda agora, véspera dos 3 meses da minha filha,  quase a mesma quantidade de tempo que ela passou dentro da minha barriga de forma oficial é o fato de que nunca estamos totalmente preparados pra nada.

Eu que desejei mais do que tudo esta gravidez, que fiz terapia, acompanhamento medico, físico, psicológico, me sinto um bebê frágil tendo de cuidar e amparar outro bebê.

Antes de me saber grávida eu era uma busca pra entender o que estava acontecendo com meu emocional, com meu espirito e com meu corpo.

Parando pra pensar, processo bem parecido com o que vivo agora.

Existe uma relação, assim nao tão nitida, mas que interfere em todos os meus corpos, materiais ou imateriais com esse novo ser.

SIM, fizemos diversas leituras que nos explicam essa ligação sob inúmeros pontos de vista, mas sinceramente, esse ponto de vista que é somente meu grita aqui dentro como a cólica que minha filha sente a mais de uma semana.

Coisa de entranha e que tambem vi em sua concretude na diarreia que me pegou de jeitoi hoje ao meio dia.
Sensação essa que me põe abaixo, me desconstrói pra me remoldar totalmente nova.

Claro que o puerpério muda totalmente uma mulher.
Claro.

Mas no meu caso, sinto como se tivesse que ter passado por uma grande batalha após uma cirurgia profunda. Sim, a cesárea que salvou minha filha, me cortou literalmente ao meio, também corpo,
alma e espirito como um ferimento de guerra com sua dor física e trauma de batalha.

 E, depois de tudo isso, sob a responsabilidade de engordar uma criança de 1kg180gramas, engordamos todas numa jornada que incluía comer, longe de casa, calorias desconhecidas para o metabolismo do meu corpo.

Me olho no espelho e não me reconheço.
O clima fica pesado.
Minhas amigas me pedem pra focar nas novas curvas de ,mulher que acolhe e provém a vida.
Me engrandeço

Cabelo, ombros, ´seios, braços e bochechas acrescidas de carne, uma marca de cesárea e roupas que não sei mais onde procurar.

Logo hoje, que teríamos uma sessão de fotos relacionadas ao meu trabalho com cura e energia.
Me vi pálida, pós noite mal-dormida, pós-dias e dias de neném grudado no peito, chorando de cólica, e pós-diarréia que me levou o fim das forças.

Logo hoje que não consegui engatar um assunto sequer após o outro. Que me vi muda com minha filha no colo enquanto analisava fotos num tela que parecia expor toda fragilidade vivida nos últimos meses.

E o que eu mais queria agora, longe de ser eu mesma de volta, era apenas que minha filha voltasse a dormir tranquila após as mamadas.
Queria poder voltar a dormir em posição fetal sem que meus peitos ardessem mais do que o normal
pelo bebe estar mamando a mais pra aliviar a dor e se reconfortar.

Minhas amigas que também são mães me afagam dizendo que essa fase passa, assim como passaram os dias de hospital e assim como vai passar esse período tão fofo do bebê.

É preciso aproveitar tudo então, não é mesmo?

A dor, a delícia e esse processo tão devastador que é renascer mãe de um novo ser.

Tá sendo pesado o bastante pra me fazer desesperar em diversos momentos, mas juro: Não trocaria essa experiência única por nenhum grande trabalho em qualquer parte do mundo.

Existem lugares internos de descoberta de uma força só acessadas agora, de profundo amor e conexão com o que existe de mais sagrado no universo só possíveis depois que minha filha nasceu.

É sabido que não precisa doer tanto pra alicerçar uma nova vida, mas creio que quando se trata de ser mãe a dor é inevitável pra atingirmos os estados mais sagrados de beleza.

E talvez esse novo corpo que carrega meu espírito seja mesmo muito diferente do que eu fui durante toda minha vida, mas agora entendo que amparar um novo ser exige mesmo uma nova carcaça.

Vamos nos reconstruindo.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Distorção




Tem dia que tá tudo distorcido.
Uma visão mais ampla do nada.

Tem dia de curtos caminhos
Velhas distâncias 
Perfeitas moradas 
Rotinas e constâncias assim sendo arruinadas 
Tem dia que só tem vez o que vem do outro lado de um mundo.
O mundo que se vive de lá de dentro de uma água.

A água dos sentidos
Sementes e fluidos 
Da força armazenada 
Tem dia que não adianta:
O raio é certeiro
E o ritmo é denso

Andar pela calçada é uma aventura anunciada 
Acender aquela lâmpada 
Amor em assonância
Entendendo: a vida é sabia

Precisa se fazer um tão pouco
Precisa se fazer quase nada 
Ela por si só acha a hora em que chega e que adentra.
Acha a hora em que arrasa.

Eita vida danada! 

Pôr do Sol




Pensar no inverno como um longo pôr do sol.
Essa parte do ano onde toda a potência de energia, que brilha assim como o sol, que faz nosso corpo se aquecer e funcionar, se recolhe.
Pensar nessa fase do ano como um se resguardar.
Um poupar daquilo que brilha, daquilo que nos revigora e tem valor.
Inverno do iluminar por dentro.
Assim como ursos que hibernam.
Árvores que, já secas, concentram lá dentro sua seiva que irromperá em flores e frutos logo mais.
Inverno da chama que aquece os sonhos que vão brotar já adiante.
Inverno pra gente se ter e nada mais.
Inverno pra se preparar.
Recarregar das baterias.
Ter paciência, esclarecer a consciência com essa pausa que o mundo necessita.
Amanhã, com toda certeza, nosso sol volta a brilhar.
Do recolhimento ao apogeu, a gente chega lá.

Isso é filosofia Taoista, sabedoria milenar. 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Parabéns!



Pequenos milagres existem.
Nos ombros e costas de volta à atividade, retomamos o poder de decidir sobre o curso de nossas próprias vidas.
Falamos de empoderamento, de acolhimento às nossas questões.
Modificamos nossa realidade passo a passo.
Fortalecidas pelas agulhas, quem nos transforma somos nós mesmas em cada novo olhar, em cada nova decisão.
Estamos mesmo de parabéns!
Progredimos rápido pois a conexão interna esteve acordada todo esse tempo.
Essas novas mulheres, tão parecidas com a nossa real essência, se superam a cada dia.
Tão clones de nós mesmas, assim nos tornamos quem sempre fomos e não pudemos expressar.
Sim, estivemos fracas, tensionadas, iludidas em falsas realidades.
Agora já estamos a acordar.
Pequenos milagres existem.
É disso que viemos falar.

sábado, 3 de junho de 2017

Botão



Hoje interessa o botão
mais do que a abertura da Flor
Hoje interessa o que é
mais do que a promessa da cor

Hoje interessa a nuance
O tangível

Em tudo vejo
Aquilo que for
tem valor 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Uma vez por semana


Uma vez por semana

Crise de ciúme e o gato mija onde não deve,
A caixa d'agua vaza no teto do banheiro, 
Dilúvios inexplicáveis me rondam
Uma vez por semana como fora, algo quase que por luxo, desejos que nunca senti 
Uma vez por semana ficar de calcinha na laje 
Visitas ao vivo 
Crises de Saudade 
Uma rima, um desenho me invadem, me lembro de onde é que eu vim 
Uma vez por semana eu tropeço e acho que vou cair de bruços,
Faço enfim uma manobra bem feita na yoga e sinto a vida nos quadris 
Uma vez por semana tiro o dia pra ver séries até me esquecer onde estou, até me lembrar do país 
Uma vez por semana como a linguiça da feijoada 
Ou escolho linguiça no self-service pra comer com limão espremido em cima 
Uma vez por semana um chilique com algo que ouvi,
Sessão com os amigos 
Terapia bem longe daqui

Um vez por semana 
Mercado, cartão de crédito, 
E as coisas pra poder parir 
Uma vez por semana acho que vou morrer sozinha 
Uma vez por semana um pano na sala
Água na área de serviço e a casa só minha 
Uma vez por semana me sinto engraçada 
Uma vez por semana eu finjo que fui, 
eu tenho que ir

segunda-feira, 20 de março de 2017

domingo, 12 de março de 2017

Eterno começar do zero




A sombra que irrompe
de todo conceito ideal

O discurso não ouço
se a palavra cheira mal

quando diz dos seus planos
sem mostrar o esboço

sequer consigo ver
sequer eu me comovo

No que vejo, brilha apenas
a carcaça de um estorvo

E me assusto, 
me machuco
e sofro

Por um rosto bonito demais
lá na foto
que é dos outros

alguém pra acudir
os meus ais
e o meu choro

um like na foto
um gemido
eu assisto e insisto
eu morro

por rosto bonito demais
lá na foto
que é dos outros

eu sem dias
eu sem fome
e sem paz

um perdão
e o que quer mais?

Se o bloco passou, 
protestei, protestais,
contra aquilo que anda pra trás
me rebelo
e eu berro demais
contra tudo quero
já tão tosco
tão jaz

Aqui dentro
eu espero
um olhar esculpido e sincero
um delírio, assim, bem mais terno

E a ferida, ainda que doída 
não finda 
essa vida,
eterno começar do zero




Fotografia; Ilha do Cardoso
Poesia: Fernanda Toscano
12/03/2017